Aos 22 anos, a estudante de design de produto da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Gabriele Abreu, pesquisava materiais que pudessem retardar o processo de apodrecimento de frutas e legumes, e assim criou um revestimento comestível que pode favorecer o transporte de morango entre o Brasil e os demais países do Mercosul.
Pelo projeto, Gabriele foi recentemente contemplada com uma menção honrosa no Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia, promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). “Em 2013 recebi uma bolsa de iniciação científica da Fapemig, e estudava a aplicação do amido no design de embalagens. Mesmo o projeto terminando no ano seguinte, fiquei com um ‘gostinho de quero mais’ e iniciei, junto a uma professora, o desenvolvimento desses filmes comestíveis”, explica a estudante.
Trio de idealizadores do HexCuit, acessório que carrega o aparelho celular utilizando as ondas de captação da rede Wi-Fi (Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução Agência Minas)
No laboratório de materiais da UEMG, ela desenvolveu um revestimento comestível feito com quitosana – uma fibra natural que pode ser obtida da carapaça de crustáceos, como lagostas, camarões e caranguejos -, e ácidos carboxílicos, que dissolvem a substância e também contribuem para o retardamento do processo de apodrecimento dos alimentos.
“Há uma demanda crescente por alimentos de maior qualidade, o que por sua vez faz com que o controle alfandegário seja cada vez mais exigente em relação a produtos seguros e livres de qualquer tipo de risco à saúde humana”, defende Gabriele.
A estudante Gabriele Abreu (Foto: Arquivo Pessoal)
O uso de revestimentos comestíveis tem sido muito pesquisado nos últimos anos em todo o mundo, uma vez que possuem propriedades de barreira e melhoram a aparência e a integridade dos alimentos, ao reduzir, por exemplo, a troca de umidade e oxigênio no alimento.
“Durante os testes e pesquisas, verifiquei, por meio de imagens de termografia, que o morango recoberto com filme obtido a partir de solução de quitosana em ácido cítrico emitiu uma maior quantidade de calor. Isso indica menor taxa de transpiração, e consequentemente menor perda de água, aumentando a vida útil do morango”, explica.
Assim, o revestimento retardou o processo de amadurecimento dos morangos e possibilita que eles possam ser transportados para outros países do Mercosul com a garantia que, ao chegar ao seu destino, as frutas estarão com o mesmo padrão de qualidade. “Mas ele não serve só para o morango, pode ser usado em outras frutas e legumes. Na pesquisa utilizamos o morango por ser uma fruta que se deteriora facilmente”, relata.
Outro ponto relevante é que a quitosana, que ainda possui propriedades antibacterianas, é obtida da carapaça de crustáceos, que normalmente é descartada inadequadamente pelos pescadores. A possibilidade de aproveitamento desses descartes é um ganho ambiental grande.
A estudante acredita que o ambiente pedagógico da UEMG a influenciou na criação do produto. “Temos um espaço para projetar e prototipar nossas ideias. Ali, elas são incubadas, então existe um ambiente de empreendedorismo e inovação dentro da universidade, que acaba contagiando outras pessoas”, afirma.
Para a superintendente de Ensino Médio da Secretaria de Estado de Educação (SEE), Cecília Resende, uma educação para o empreendedorismo é também uma forma de empoderamento juvenil. “Estimular uma cultura empreendedora, fomentando uma postura de protagonismo entre todos os alunos, incentivando-os a propor soluções para os problemas existentes na sociedade e a colocar a mão na massa é muito importante. Assim, empoderamos os jovens, para enfrentarem os problemas e elaborarem propostas que promovam uma mudança social”, enfatiza.
Inovação na educação básica
A inovação também já é realidade em muitas escolas da educação básica em Minas Gerais. Em Prudente de Morais, no território Metropolitano, três alunos do Ensino Médio da Escola Estadual João Rodrigues da Silva, incentivados pelo professor de física, criaram uma bicicleta inteligente, que ajuda o ciclista a evitar acidentes.
A ideia surgiu a partir de uma pesquisa realizada dentro da própria instituição, que apontou que grande parte dos alunos utilizava bicicleta para deslocamento até a escola e muitos deles já haviam sofrido acidentes no percurso. “Começou com a ideia de criar um acessório que pudesse ajudá-los, que seria um colete iluminado com leds”, explica o professor Giezi Américo.
Porém, o projeto, batizado de Nossa Bike, cresceu. Hoje o sistema de segurança criado por eles tem setas, lanterna frontal, sensores de impacto que acionam o Samu automaticamente em caso de acidente e GPS integrado. O projeto dos estudantes foi selecionado pela Fapemig e foi apresentado durante o Inova Minas, que aconteceu entre os dias 5 e 7 de agosto no Circuito da Liberdade, em Belo Horizonte.
Segundo Américo, o maior ganho é a estimulação do empreendedorismo e inovação entre os alunos, que continuam tendo ideias para melhorar o produto e têm participado de palestras para proceder com a solicitação de patente do Nossa BIke.
“O importante é dar esse pontapé inicial com eles, é papel do professor. Um dos alunos, por exemplo, está fazendo um curso de robótica. Estimulo-os a buscar novas soluções para coisas do dia a dia, a inovar”, ressalta.
Empreendedorismo
Na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), dois acadêmicos dos cursos de Sistema de Informação e de Ciências Econômicas, juntamente a um aluno de uma faculdade particular da região, desenvolveram um aplicativo que permite carregar a bateria do smartphone a partir de uma rede de internet Wi-Fi.
Denominado HexCuit, o acessório, que é uma capinha, carrega o aparelho celular utilizando as ondas de captação da rede Wi-Fi. A startup do trio, que chegou a ser selecionada e participar da Aceleratech, aceleradora que fomenta o empreendedorismo no país, agora está em fase de pesquisa. “Já comprovamos que é possível, agora estamos trabalhando para melhorar a tecnologia e torná-la mais rápida e eficiente. Então voltamos para a pesquisa”, explica o aluno Roger Mathews.
Pesquisa fomentada na rede estadual
Com o objetivo de fomentar a iniciação científica na rede estadual de ensino, uma parceria entre a Secretaria de Estado de Educação e a Fundação de Amparo à Pesquisa em Minas Gerais (Fapemig) vai oferecer bolsas de pesquisa a professores e estudantes do ensino médio em todo o estado. O Termo de Cooperação para a criação do programa foi assinado em maio pela secretária de Estado de Educação, Macaé Evaristo.
“Com essa parceria, pretendemos criar um mecanismo de irradiação de pesquisa e da inovação no currículo do Ensino Médio, porque até agora a ideia da pesquisa, da investigação e experimentação ainda é pouco presente. Até o final de 2018, devem ser investidos R$ 98 milhões no projeto”, diz a Secretária de Estado de Educação, Macaé Evaristo.
A ideia é que sejam contratados, via Fapemig, pesquisadores de diferentes universidades públicas e comunitárias do Estado. Eles orientarão os professores das escolas estaduais, que deverão, por sua vez, orientar alunos do Ensino Médio, em pesquisas que envolvam uma das quatro áreas do conhecimento: Matemática, Linguagens, Ciências Humanas e Ciências da Natureza. As pesquisas desenvolvidas pelos alunos deverão aplicadas no território e ter aceitação e aplicação dentro da comunidade onde a escola está inserida.