O Brasil Sem Miséria, realizado em Minas Gerais por meio de um acordo de cooperação técnica entre os governos federal, estadual e a Emater-MG, tem melhorado a qualidade de vida de muitos trabalhadores rurais, com projetos de geração de renda. Entre 2014 e 2016, o programa destinou cerca de R$ 19,5 milhões para o estado, contemplando mais de 8 mil famílias de agricultores mineiros. A meta é chegar a 9,7 mil beneficiários até o fim do ano.
“Minas são muitas”, sentenciou Guimarães Rosa. E são mesmo. A diversidade é tanta que algumas regiões do estado necessitam de soluções totalmente distintas das demais. Uma delas é a de clima semiárido. Considerada uma porção nordestina no Sudeste, essa região marcada pela caatinga tem duas estações definidas: uma chuvosa, que dura cerca de três meses, e outra totalmente seca, que predomina o resto do ano.
Nos 85 municípios inseridos nessa área (Vales do Mucuri, Jequitinhonha e Norte de Minas), é da rotina dos produtores lutar contra os efeitos da seca, e este ano não será diferente. A estiagem consumiu pastagens, lavouras e parte do rebanho; o milho está caro.
Diante de tantas dificuldades, nada mais lógico do que procurar em lugares que enfrentam os mesmos desafios formas de superá-los. Uma das alternativas adotadas no semiárido nordestino é a palma forrageira – um cacto originário da América Central, que tem 75% da proteína bruta fornecida pela silagem de milho.
Fonte tanto de alimento quanto de água para o gado e para humanos, é altamente resistente à seca. Seu uso é recomendado como complemento alimentar, compondo entre 40% e 50% do volumoso.
A palma forrageira é velha conhecida da população do semiárido, mas comumente é plantada nas piores faixas de terra da propriedade, sem receber muita atenção. Porém, cultivada com as técnicas corretas pode alcançar boa produtividade e ser excelente recurso para controle da erosão em terrenos declivosos.
Para apresentar essa alternativa aos pecuaristas mineiros o Sindicato dos Produtores Rurais de Araçuaí (Siproara) promoverá entre 9 e 10 de junho de 2016 um simpósio sobre a palma forrageira, com a participação do engenheiro agrônomo Paulo Suassuna. Especialista na cactácea, ele desenvolveu a tecnologia de cultivo intensivo da palma aplicada em pequenas propriedades rurais.
O evento, que será realizado em parceria com o Sistema FAEMG, Sebrae e a prefeitura municipal, pretende apresentar técnicas de cultivo intensivo e aplicações práticas da planta, bem como maquinário para facilitar o manejo. As vagas para o seminário são limitadas, mais informações pelo (33) 3731-1713 ou (33) 9 9972-1713.
A ideia de difundir a palma no semiárido mineiro surgiu no segundo semestre do ano passado, quando o presidente do sindicato, José Otoni Alves Campos, trocou uma viagem técnica aos Estados Unidos para conhecer a produção de leite naquele país pela participação no 4º Congresso Brasileiro de Palma e Outras Cactáceas, na Bahia.
“Realmente acredito que pode ser uma boa opção. Na década de 1970 nosso rebanho tinha cerca de 90 mil reses, hoje temos menos de 35 mil. A pecuária continua sendo nossa principal fonte de renda, temos que fazer algo para torna-la lucrativa. Eu já plantava palma, mas sem técnica nenhuma. Aprendi que precisa ser tratada como as outras culturas. Ter o manejo certo. Estamos trazendo o engenheiro agrônomo que desenvolveu a técnica do cultivo intensivo ao nosso seminário para nos ensinar a plantar e compramos 300 mil mudas para distribuir aos participantes”, José Otoni Alves Campos, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Araçuaí.
Plantação de palma forrageira (Foto: Reprodução / Jornal Simaodiense)
Semiárido
Critérios técnicos para classificação de municípios:
1 – Precipitação pluviométrica média anual inferior a 800 milímetros;
2 – Índice de aridez de até 0,5 calculado pelo balanço hídrico que relaciona as precipitações e a evapotranspiração potencial, no período entre 1961 e 1990;
3 – Risco de seca anual maior que 60%, tomando-se por base o período entre 1970 e 1990.
São considerados pertencentes ao semiárido os municípios que atendam pelo menos um desses critérios.
Em Minas Gerais:
- 85 municípios do Norte e Vale do Jequitinhonha
- Mais 1,2 milhão de habitantes
- Mais de 40% vive na zona rural
Descrição da planta
Cacto suculento, ramificado, de porte arbustivo, com altura entre 1,5 e 3 m, ramos clorofilados achatados, de coloração verde-acinzentada, mais compridos (30 – 60 cm) do que largos (6 – 15 cm), variando de densamente espinhosos até desprovidos de espinhos. As folhas são excepcionalmente pequenas. As flores são amarelas ou laranja brilhantes, vistosas. Os frutos são amarelos-avermelhados, suculentos, com aproximadamente 8 cm de comprimento, com tufos de diminutos espinhos.
Origem
Nativa das regiões áridas da América Central, principalmente México.
Histórico no Brasil
- Foi introduzida no semiárido nordestino para a produção de corante carmim, no final do século XIX.
- Durante a grande seca de 1932 foi descoberta como alternativa forrageira. Nesse período o governo federal implantou o primeiro programa de incentivo ao uso.
- Estudos mais aprofundados, visando ao melhor aproveitamento da espécie, só começaram a partir da década de 1950.
- Outra grande seca, ocorrida entre 1979 e 1983, consolidou o espaço da palma no semiárido nordestino e vários estudos sobre a espécie foram iniciados.
- A produção atual no Nordeste ultrapassa 500 mil hectares. Está concentrada em Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Norte da Bahia.
- Duas espécies são cultivadas em larga escala: Opuntia ficus-indica, que possui as cultivares gigante e redonda, e Nopalea cochenilifera, que possui as cultivares miúda e doce. A gigante é a mais comum no semiárido nordestino, devido à sua rusticidade.