Pesquisadores analisaram a mortalidade de mães pela doença em dois anos de crise sanitária.
Durante a pandemia, mais de 40 mil crianças e adolescentes ficaram órfãos pela Covid-19.
Os dados são de um estudo inédito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado no periódico internacional Archives of Public Health, da editora Springer Nature, no dia 19 de dezembro.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram a mortalidade das mães pela doença em 2020 e 2021, a partir de dois bancos de informações:
Óbitos por Covid-19 registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) em 2020 e 2021;
Dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) entre 2003 e 2020.
De acordo com o coordenador do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), Cristiano Boccolini, o levantamento mostra que o impacto da crise sanitária na vida das crianças e adolescentes brasileiros exige a adoção urgente de políticas públicas de proteção à infância.
“Considerando a crise sanitária e econômica instalada no país, com a volta da fome, o aumento da insegurança alimentar, o crescimento do desemprego, a intensificação da precarização do trabalho e a crescente fila para o ingresso nos programas sociais, é urgente a mobilização da sociedade para proteção da infância, com atenção prioritária a este grupo de 40.830 crianças e adolescentes", afirma o pesquisador.
Segundo a professora Deborah Malta, da Escola de Enfermagem da UFMG, a pesquisa também permite avaliar que a morte das mulheres tem consequências para a sociedade como um todo, mas o maior impacto é na família.
"A morte de uma mulher tem o potencial de desestruturar uma família. Quando o homem morre, a mulher segue em frente, mas no caso da morte dessa esposa e mãe, o marido muitas vezes não consegue cuidar dos filhos sozinho. Então quantas dessas mulheres morreram, e o que isso significou para essas famílias?", diz Malta.
O estudo analisou os impactos da pandemia não só para as crianças e adolescentes, mas também para os adultos. Os pesquisadores chegaram às seguintes conclusões:
Em 2020 e 2021, a Covid-19 foi responsável por um quinto de todas as mortes registradas no Brasil
O pico da pandemia ocorreu em março de 2021, com quase quatro mil mortes por dia - número superior à média diária de mortes por todas as causas em 2019
A taxa de mortalidade pela Covid cresceu com a idade e diminuiu de acordo com um maior nível de escolaridade
A faixa etária de 40 a 59 anos foi a que apresentou a maior proporção de vítimas da Covid-19
A mortalidade por Covid-19 foi três vezes maior entre adultos analfabetos do que entre aqueles que concluíram o ensino superior
A taxa de mortalidade por Covid-19 entre homens foi 31% mais alta que entre as mulheres
A demora na adoção das medidas de saúde pública necessárias para o controle da Covid-19 no Brasil agravou a disseminação da doença, resultando em perdas de vidas humanas que poderiam ter sido evitadas.